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3 aprendizados essenciais para introvertidos

Gráfico de pizza dividido no meio, com o texto: "50% de introvertidos?"

Você já foi a uma festa cheia de gente, som alto, gritaria e se sentiu incomodado, ao invés de animado? Pode ser uma festa da carnaval, uma balada ou até mesmo um shopping cheio demais.

Se a resposta é sim, talvez você seja um introvertido. E, apesar desse termo ser frequentemente utilizado quase que como sinônimo para “anti-social”, estou aqui para falar que não é bem assim. Já já falamos mais disso.

Aqui no Brasil, um dos primeiros conteúdos de maior visibilidade que falava sobre os chamados introvertidos de um ponto de vista positivo foi o TED de 2012 da Susan Cain. Denominado “O poder dos quietos”. Para mim ele foi o pontapé inicial, porque levantou duas questões:

  1. Ué, quer dizer que eu não sou a única assim? 
  2. Ser assim pode até ter benefícios e vantagens?

Esses foram questionamentos poderosos, porque por um longo tempo pensei que ser assim era um defeito. Algo que eu precisava, na verdade, consertar. Passei anos me forçando a ir em lugares, eventos ou até agir de maneira que não era natural para mim. E, claro, isso drenava completamente minha energia.

Mas o que eu posso fazer com isso agora? Se você se identificou, a seguir estão três exercícios que podem valer a pena:

#1: Redefina o que é ser introvertido(a). É mais comum do que você pensa.

Como VOCÊ descreveria o que é ser introvertido? Pare 5 segundos para pensar nisso.

Uma descrição bastante comum é a do “pessoa que não gosta de pessoas” — o que não é bem verdade. Você percebe que descrever um introvertido como anti-social é basicamente descrevê-lo na falta de uma habilidade (basicamente, de ser sociável)? Ausência de. Sim, e esse erro é tão comum que é cometido até mesmo por estudos nessa área.

A psicóloga Laurie Helgoe ressalta em seu livro “Introvert Power” sobre descrevermos a introversão como uma característica, e não a falta de algo.

“Nós tendemos a definir [a introversão] negativamente (a falta de) e não pelo que significa. Diversas atividades são feitas na solitude — como ler, pensar, analisar, etc — e nós tendemos a fazê-lo. Nós podemos ser sociais em um ambiente que é mais individual e que possui confiança. Nós tendemos a ser profundamente analíticos e perceptivos.”

Laurie Helgoe (tradução direta)

Percebe a diferença? Além disso, Laurie fala sobre o quanto a introversão é mais comum do que imaginamos: estima-se que metade de nós seja introvertido. Metade! Talvez isso ajude a ter perspectiva. As pessoas, em geral, reagem com descrédito, pois somos programados para acreditar que somos a minoria. Esse mito começou em uma pesquisa que teve seus dados iniciais publicados e, mesmo após os ajustes, essa crença acabou se espalhando (é uma história interessante, inclusive! Posso escrever sobre no futuro).

Na prática

Reprograme como você fala com você mesmo. Introversão é uma característica, que representa tendência a preferir:

- Ambientes sociais mais íntimos (grupos menores);

- Atividades de processamento solitário, como ler, analisar, inventar, planejar, calcular, desenhar, escrever etc;

- Ambientes com estímulos controlados (que nos leva ao próximo tema…).

#2: Desenvolva sua principal ferramenta: aprender a gerenciar estímulos

Os introvertidos percebem os estímulos de maneira mais intensa, por isso pode ser tão cansativo. Esse é um perfil que tende a ser observador, notando informações e nuances que outros perfis talvez não percebam. 

Ou seja, já existem diversos estímulos do próprio ambiente. Some a isso os diversos pensamentos — já que tendem a analisar as coisas —, e aí chegamos ao porquê de essas pessoas poderem se sentir super estimuladas com maior facilidade.

“Nós sabemos por estudos de imagem que o cérebro dos introvertidos mostram mais atividade em resposta a estímulos do que o cérebro de extrovertidos. Ainda assim, a ideia da extroversão como o ‘a mais’, a coisa – e a introversão como o ‘menos’, a ausência da coisa – é tão prevalente em nossa cultura que nós aceitamos essas descrições sem nem questionar.”

Laurie Helgoe, Introvert Power (tradução direta)

Por isso, aprender a gerenciar esses estímulos é a verdadeira chave para uma vida melhor. A realidade é que os ambientes são, em grande parte, feitos pensando em pessoas extrovertidas. Ainda mais se você vive no Brasil. Por isso, quem é introvertido geralmente precisa fazer esse gerenciamento.

Aqui, o primeiro passo é entender quais são os tipos de estímulo que são mais importantes para você. O que facilita o seu dia a dia? E o que realmente te incomoda? Como você percebe que está chegando no limite de estímulos?

Tem pessoas em que o ambiente cheio de gente é o pior, outras pessoas reclamam mais do barulho intenso, e por aí vai.

Uma dica: é interessante que você tente utilizar estratégias de gerenciar os estímulos antes de ficar hiper estimulado. Quando atingimos o limite, pode dar aquela sensação de fadiga. Por isso, se souber identificar que sua bateria está em 20%, por que não já utilizá-las? Tenho certeza que sua energia será infinitamente mais preservada.

Na prática
Mapeie quais estímulos são os mais relevantes para você gerenciar, seja na vida pessoal ou profissional. Questões que podem ajudar: 

- Quais situações te deixam sobrecarregado? Ex: lugares muito cheios, barulho excessivo, etc.

- No trabalho, qual é um ritmo de reuniões vs. atividades que funciona bem para a sua produtividade? Como posso organizar minha agenda para chegar mais próximo disso?

- Na vida pessoal, como você se organiza nos momentos de lazer? Quais passeios te energizaram e quais tiraram sua energia? Por que?

- Como você perceber que está chegando “no limite”?

#3: Aprenda a ser mais assertivo sobre as suas preferências (defina limites)

Se no primeiro tópico falamos sobre ressignificar introversão para você (como você pensa), aqui estamos falando sobre aprender a a colocar limites na interação com os outros.

A história é mais ou menos assim: os amigos de Clementino o chamam para sair — aquela festona lotada. Ele, na verdade, já tinha se planejado para fazer uma trilha no fim de semana e outras atividades conectadas aos seus interesses e hobbies. O que ele faz?

  1. Sente vergonha disso, pensa que os amigos vão estranhar por preferir outros programas àquela grande festa. Dá uma desculpa qualquer e diz que não poderá ir. Depois, se sente um pouco mal por ter mentido um pouco para seus amigos;
  2. Contrariado, acaba indo porque se sente obrigado. Sem saber os seus limites, fica até o fim, cansado, e pensando que deveria ter feito outra coisa. Demora dias para se recuperar da festa;
  3. Pensa se é uma festa que ele quer ir, mesmo que seja para ficar só com os amigos. Decide ir, mas opta por ir embora um pouco mais cedo, para ainda fazer as atividades que planejou e que o energiza;
  4. Diz que já tinha se planejado para fazer outras coisas naquele dia, depois eles poderiam marcar de sair juntos.

Não há resposta certa ou errada, mas percebe que nas duas primeiras opções Clementino se negligenciou? Nas duas últimas, independente de ter ido ou não à tal festa, ele conseguiu entender seu perfil, colocar limites e assumir o controle do que iria fazer.

Esse é um exercício simples que todos nós podemos fazer. Ao invés de ir com a maré, podemos apenas criar estratégias e colocar os limites que nos fazem bem. 

Na prática, talvez indiretamente você já utilize algumas táticas de gerenciamento: quando está com muito barulho, sai do ambiente por alguns minutos. Quando está um lugar cheio demais, vai mais cedo embora para ver algo mais tranquilo.

Às vezes o que nos atrapalha de fazer isso é a vergonha e a sensação de que “não deveríamos” precisar daquilo, por isso respeitar-se e aprender que essas são ferramentas que pode utilizar a seu favor é chave.

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